sexta-feira, 18 de junho de 2010

O FILÓSOFO E OS REACIONÁRIOS

Sócrates (não o original, mas sim o ex-jogador de futebol) ao filosofar sobre as escolhas do técnico Dunga, em entrevista para o jornal britânico The Guardian, proferiu a seguinte frase: “Dunga é gaúcho, do extremo sul do Brasil. E eles são os brasileiros mais reacionários”.

Não sei exatamente o que ele entende por reacionário, mas pelo meu entendimento acredito que ele está um tanto quanto equivocado. Concordo sim que existam gaúchos reacionários, assim como existem paulistas, cariocas e baianos reacionários. Mas generalizar ao ponto de envolver todo um povo sob esse estigma é uma atitude no mínimo ignorante e preconceituosa. A atitude de uma pessoa não pode ser generalizada para a de uma população inteira. Isso se concordarmos que o Dunga seja realmente reacionário, o que na minha opinião também não é verdade.

Quanto à afirmação do Sócrates sobre os gaúchos, tenho lá minhas dúvidas. Os gaúchos já brigavam contra o Império, em função dos altos impostos, e lutavam por seus direitos. Não foi à toa que o Rio Grande se lançou numa revolução que durou dez anos. Pergunto: lutar contra o status quo é ser reacionário?

No início do século XX, um tal Luís Carlos Prestes encabeçou um movimento que percorreu, durante mais de dois anos, o interior do Brasil, denunciando a miséria e a exploração do povo brasileiro pelos líderes políticos. Em 1930 foi a vez de Getúlio Vargas acabar com um modelo político que há anos tomava conta do poder no país, a chamada “República Café com Leite”. Seriam os gaúchos os reacionários? Ou os paulistas e mineiros que queriam manter-se no poder a todo custo?

No início dos anos 60, um movimento surgido no Rio Grande do Sul garantiu que a constituição federal fosse cumprida e adiou por alguns anos o iminente golpe militar. Falo da Cadeia da Legalidade, idealizada e posta em prática por Leonel Brizola.

Mais recentemente, foi no Rio Grande do Sul que surgiu o Fórum Social Mundial, abrindo caminho para a discussão e a crítica à dominação político-econômica dos países capitalistas. De Porto Alegre, no extremo sul do Brasil, o fórum foi para Mumbai na Índia, depois passou por Bamako, no Mali; Caracas, na Venezuela; Karachi, no Paquistão; Nairóbi, no Quênia e andou até por Belém do Pará, terra do Sócrates.

É por essas e outras tantas coisas que não posso concordar com o que o ex-jogador falou. O gaúcho pode ser conservador, nisso eu concordo. Mas reacionário não. O gaúcho é apegado às suas tradições, se orgulha disso e faz questão de preservar sua cultura, mas jamais fugiu à luta e nunca foi avesso a mudanças. Talvez sejam essas características que causem estranhamento ao ex-jogador que nunca levantou a Copa do Mundo (ao contrário de Dunga, capitão da equipe que nos trouxe o Tetra).

Deixando o pseudo-filósofo de lado, quero terminar dizendo que confio no Dunga e acredito no potencial dele como técnico, afinal ele deve ter sido escolhido para o cargo por ter qualidades para tanto e não por ser deste ou daquele estado.


Se alguém quiser ler mais sobre o assunto:

The Guardian:
http://www.guardian.co.uk/theobserver/2010/jun/13/socrates-brazil-football-world-cup

Jorge Furtado, em seu blog:
http://www.casacinepoa.com.br/o-blog/jorge-furtado/o-julgamento-de-s%C3%B3crates

Um comentário:

  1. Bom confesso que não fui muito a favor da convocação no dunga no começo de tudo,mas pensando em uma parte esses foram os unicos jogadores que brilharam e jogaram sem precisar fazer propagandas para se aparecerem,achei muito importante a atuação e a coragem que ele teve de enfrentar o povo diante de uma afirmação e certeza dele.
    admiro muito isso nele ;)
    Bom texto e ótimo blog :**
    http://bolinhodevento.blogspot.com

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