segunda-feira, 17 de junho de 2013

Pelo Brasil



Meu protesto é pacífico. É uma forma de dizer que sou contra um monte de coisas que considero erradas.
É um protesto contra a corrupção.
Contra Renan Calheiros na Presidência do Senado.
E em repúdio aos eleitores que o colocaram lá.
Contra Marco Feliciano e sua afronta aos Direitos Humanos.
Contra o Estatuto do Nascituro.
E contra os que são contra um Estado Laico.
Contra a PEC 137 e a favor da cassação dos condenados pelo mensalão.

É um protesto para que as leis desse país sejam cumpridas.
Para que nós, cidadãos, sejamos capazes de fiscalizar a aplicação dessas leis, e não tentar tirar proveito delas.
Para que a corrupção seja extinta não só no Congresso, mas em nosso dia-a-dia, quando muitos agem de forma corrupta em suas pequenas ações, como no simples ato de furar uma fila.
É um protesto para que os trabalhadores tenham seus direitos assegurados. E para que as empresas tenham condições de pagar impostos mais justos.

É um protesto contra os favorecimentos.
Contra as concessões pela tal governabilidade.
Contra vender o Rio de Janeiro à iniciativa privada de um homem só.
Contra construir campos de golfe em áreas de reserva ecológica.

Mas é também, acima de tudo, uma movimentação a favor do Brasil.
Um pedido para esse governo que ajudei a eleger e pelo qual me sinto responsável.
Um pedido para que seja feito o que é realmente é preciso.
A favor de investimentos em saúde e segurança.
A favor de que a educação seja verdadeiramente uma prioridade.
A favor de mostrar o que está errado, pois sempre é tempo de mudar.

É uma forma de mostrar que não somos sacos de pancada.
Que não somos seres alienados, desconectados daquilo que acontece ao nosso redor.
Que nossos políticos não podem fazer o que bem entendem, achando que aceitaremos tudo calados.

É preciso sim, sair às ruas.
Manifestar-se.
Mostrar descontentamento.
Mas é preciso saber fazer isso. Sem exageros, sem violência.
Com respeito.

Pelo Brasil. 


terça-feira, 18 de setembro de 2012

Space Cake



Red Light District, Amsterdam. 22:00 pm


A noite fria parece nâo ser problema para os turistas que circulam pelo mais underground dos bairros da capital holandesa. Ninguém que anda por ali parece ter algum tipo de pudor em caminhar pelas ruas repletas de vitrines onde as putas se expõem, algumas seminuas, outras peladas por completo.  Além do mais, o que move muitos dos que andam ali não é o desejo por alguns momentos de sexo pago, mas sim a curiosidade acerca da mística que envolve o aquele lugar, tão falado mundo afora.  É como se as mulheres que se expõem ali fossem como os animais nas jaulas dos zoológicos. À disposição da curiosidade alheia.
– Putas nas vitrines. Maneiro – comenta alguém em português, em meio àquela balbúrdia de idiomas.
É um cara de cabelos loiros, acompanhado de mais um cara e duas meninas. Ambos na faixa dos vinte e poucos anos.
– Deve ter aquecimento lá dentro, senão elas iam congelar o material de trabalho – responde o amigo.
Trata-se de um grupo de mochileiros, provavelmente. Olham curiosos para as vitrines onde as putas se expõem.
– Porra! Aquela ali chega tá de perna aberta.
– Cês tão examinando tudo. Por que não entram numa casinha dessas? – fala uma das meninas,
– Deixa quieto. A gente não veio aqui pra isso. O objetivo é outro.
– Então vamo achar esse coffe shop logo.
E seguem adiante, parando de quando em quando a admirar as modelos. Baixas e altas, gordas e magras, bonitas e feias, loiras e morenas, ruivas e negras. Mulheres para todos os gostos. Travestis também. Alguns homens param junto às vitrines, sem cerimônia alguma, conversam, negociam, uns entram, outros caem fora.
– Olha aquela loira. Gostosa pra caralho.
– Escuta... É italiana. Escuta ela falando...
– Bem que podia ter uns caras também  – fala uma das meninas, a que usa um captive no nariz.
– Podia mesmo  – fala a outra.
– Cê quer, eu tiro a roupa aqui pra você  – diz o carinha de cabelos loiros.
O moreno chama a atenção dos amigos e aponta pra uma ruela.
– Acho que é por aqui. Deve ser naquela esquina  – fala, mostrando no mapa.
Chegam na tal esquina. Um barzinho meio sinistro, vazio. Entram.
– Four space cakes, please.
E o cara que atende mostra um cardápio. E explica que tem de várias gramaturas. Escolhem o de 0,3 gramas. Comem sentados numa mesa no canto do bar. Conversam.
– Porra, mas não dá barato nenhum  – fala o loiro.
– Espera, diz a menina. Demora. Não é que nem fumar.
– Ah, eu vou pedir mais um. Mais alguém afim?
As meninas dizem que não, o de cabelos pretos concorda em dividir o de um grama. É um brownie de chocolate, meio abatumado. Lambuzam os dedos com a cobertura. Antes de sair olham o bar. Chama a atenção alguns desses recipientes de vidro, que em muitos bares no Brasil costumam estar cheios de balas e pirulitos. Mas ali o conteúdo é outro. Cannabis. De várias qualidades, vários tons de verde.
Caminham pela rua que se estende entre o canal e as vitrines. Entram num pub. Pedem cerveja. Menos o loiro que diz não querer que nada interfira no efeito do bolo. Bebem, se abraçam, tiram fotos, fazem essa porra toda que a galera faz quando ta viajando. Algo meio amigos para sempre.
Já são quase meia noite quando saem do bar. A noite está ainda mais fria, mas eles nem ligam.
– Caralho, minha mão tá ficando grande  – fala o loiro.
– Tá de zoação.
– Não to não velho, minha mão ta crescendo. E a pele do meu olho também. Caraca  – e ri, sem parar.
– Que pele do olho?
– Essa aqui ó  – responde ele, levando os dedos à sobrancelha. – Tá crescendo.
– Que afudê velho, tá fazendo o efeito.
– Minha mão tá crescendo... olha só... – e mostra as mãos para os amigos.
– É a “mão do Mickey”. Normal dar isso  – fala a do piercing. – Mas em mim ainda não deu nada.
Nisso os dois caras já estão rindo sem parar. Param em frente a uma das vitrines. Sorriem para uma das garotas que está lá dentro, uma morena peituda. Do lado dela, alheia a tudo, uma outra manda sms pelo celular. A prostituta faz sinal pra eles, eles vão até lá e ela abre a porta. Conversam, voltam.
– Não entendi o que ela falava, devia ser holandês  – fala um deles, rindo.
– Holandês nada, retruca uma das meninas, elas vem de outros países pra cá. América Latina, Leste Europeu.
– E tu respondeu em brasileiro, quem não entendeu foi ela. Ela falou em inglês  – fala o outro garoto.
– Brasileiro! A gente não fala brasileiro!
– Eu falo brasileiro! Eu falo brasileiro! Eu vou comer uma puta! Eu vou comer uma puta!
– Vai comer nada, vamo pegar um táxi e voltar pro hostel. Vocês tão chapado.
– Pow lindinha, não fala assim, hoje é dia de se divertir.
– Vambora. Minha mão tá tremendo  – fala a outra menina, que estava quieta até então.
– Não tá crescendo ainda? Tipo assim, tua mão começa a ficar maior, saca? É como se os dedos fossem inchando, aumentando de tamanho, só que na verdade não aumenta.
– Aumenta ou não aumenta?
– Aumenta. Mas não assim. Faz de conta, entendeu?
– Tá dando  – fala a menina.
– Tá dando?
– Tá, parece que tá crescendo.  
E ela começa a abrir e fechar as mãos. Ri.
– Falta só ela agora  – e apontam pra menina do piercing, que está parada alguns metros atrás.
– Hey, o que houve?
– Tô paralisada. Não consigo andar.
– Caramba. O que será que deu nela?
Os dois meninos seguram ela, um de cada lado. Ajudam ela a trocar os passos. Ela ri. Bolinho do diabo. Os quatro se abraçam e caminham lado a lado.
– Eu falo brasileiro! Eu falo brasileiro! Eu vou comer uma puta! Eu vou comer uma puta!
A madrugada entra. Os quatro circulam pelas ruas do Red Light District, sem rumo. E riem pra caralho. As prostitutas seguem seu trabalho, indiferentes ao que fazem aqueles quatro malucos de algum lugar do mundo. Afinal, toda noite é assim.


domingo, 16 de setembro de 2012

Uma outra Grace Kelly



Greice Queli nasceu pobre, feia e com o intelecto pouco avantajado. Avantajados em seu corpo, apenas os glúteos. Menos mal, porque assim ao menos tinha algum atributo.

Começou a trabalhar aos 13 anos, como empregada numa casa de família. Deu para os dois filhos adolescentes de sua patroa e também para o marido. Com o fato de ter dado para os filhos, a mulher não se importou, mas quando descobriu que o marido estava comendo a empregadinha feia, tomou duas decisões: a primeira foi mandar Greice Queli embora, a segunda implantar silicone na bunda.

O dinheiro conserta tudo, até uma bunda caída, mas para quem nasceu pobre como Greice Queli, a vida era bem mais difícil.

Sem carta de referência de sua ex-patroa e com sua verdadeira vocação descoberta, aos 14 Greice Queli foi trabalhar no bordel da Tia Zoé, uma puta velha que estava na vida há mais de 60 anos. Marketeira e empreendedora, Zoé transformou Greice Queli numa fonte rentável, elevando sua bunda à condição de mercadoria de primeira linha no estabelecimento.

Greice Queli ficou na casa até completar 18 anos. Por coincidência, poucos dias antes do aniversário, esteve no bordel um tal Rodolfo, um negrão de 1,90 conhecido como Bengala, que trabalhava como ator pornô em produções de baixíssimo nível. Bengala encontrou em Greice Queli o par perfeito para suas atuações e decidiu transformá-la em sua companheira de cena.

No dia do seu décimo oitavo aniversário, Greice Queli deu adeus à casa que a recebera com tanto carinho e onde fora muito feliz durante aquele tempo em que era tida como uma celebridade do baixo meretrício local. Abraçou-se chorosa à velha Zoé, a quem chamava de “Mãezinha”. A velha deu-lhe um último conselho: “tua bunda é a única coisa que pode te levar a algum lugar, por isso escolhe muito bem para quem tu vais dar”.

Ao lado de Bengala, estrelou uma famosa seqüência intitulada “Ataque pela retaguarda”, que lhe rendeu até um prêmio de melhor atriz num festival de filmes do gênero no centro do país. Foi no dia da premiação que ela conheceu Ranieri, um produtor executivo do cinema underground que a convidou para uma superprodução que teria como destino o mercado internacional. Sua carreira estava fadada ao sucesso, mas eis que o amor aconteceu em sua vida quando Ranieri caiu de amores por aquela mulher feia, burra e de nádegas enormes.

Desistiu do cinema e foi ter uma vida de princesa ao lado do produtor pornô. Teve dois filhos, Caroline e Alberto - que hoje prefere ser chamado de Stephanie. 

Costuma dizer que conquistou a felicidade com o pouco que Deus lhe deu.

domingo, 11 de março de 2012

DO AMOR E OUTROS DEMÔNIOS

O título não é meu, é do García Márquez. Um dos grandes escritos do mestre, mas que não fala exatamente sobre o que eu quero falar aqui hoje. Só resolvi pegá-lo emprestado pra um post que talvez ninguém leia...

O fato é que o amor, por mais instigante que seja, esconde em si alguns monstros. Eles ficam ali, comendo pelas beiradas, esperando o grande momento para agir. E não atuam necessariamente ao mesmo tempo, realizam um trabalho em equipe, cada um tem sua vez e realizam suas tarefas primorosamente. É como se um vírus invadisse o organismo de um indivíduo e o debilitasse, dando espaço para outros agirem até massacrarem o pobre corpo e o deixar sem forças.

O primeiro monstro que age é o monstro da Bobeira. Ele desenvolve no organismo infectado uma sensação de felicidade, fazendo com que se acredite que a vida é maravilhosa, que Deus existe, que o mundo é belo e que o ser humano vai salvar o planeta. Não se sabe ao certo quanto tempo leva sua ação, em alguns casos seus sintomas cessam rapidamente, em outros podem levar anos.

Um pouco depois dele um outro demônio dá as caras. É o monstro da Cessão. O corpo atingido pelo vírus do amor começa a ceder. Deixa de sair com os amigos, deixa de ir pra balada, deixa de dar aquela olhadinha quando passa por alguém interessante na rua. Nada mais importa. Só o outro. 
Aí vem um monstro filho da puta, o monstro da Cobrança. Você não me ligou. O que está acontecendo? Te fiz alguma coisa? Tô precisando tanto de você... Por que decidiu isso sem pedir a minha opinião? Quem são esses amigos que eu não conheço? E essa vagabunda que te cutucou no facebook, quem é?

Então entra em cena o monstro da Ausência. Os sintomas começam de repente. É aquela sensação de estar perdendo o outro aos poucos, começa a doer o peito, o ansiolítico não faz mais efeito e mete-se os pés pelas mãos. Antecipadamente já é possível saber que fudeu tudo. 

É nesse momento que o organismo infectado fica mais fragilizado e aí é um show de monstros tomando conta do pedaço. O monstro da Imbecilidade, o monstro do Ofuscamento-da-visão, o monstro do Rastejamento, o monstro da Humilhação, o monstro da Dor-dilacerante-que-corta-o-peito... 
O indivíduo então se despedaça, literalmente ou não. Tudo sai do eixo. A pessoa não tem fome, acorda de madrugada sem sono, não sente vontade de fazer sexo, pensa o tempo todo no outro, não desgruda o olho do celular na esperança de receber uma mensagem ou uma ligação em que a pessoa vai falar: “me desculpa, eu estava errado, sou um(a) idiota, como fui fazer isso com alguém que gosta tanto de mim? vamos voltar e ser feliz pra sempre?” Mas o diabo do celular não toca. Cuidado, pois nesse momento pode entrar em ação o monstro da Raiva e você pode destruir contra a parede o telefone móvel último modelo pelo qual você pagou uma nota. 

Depois disso entra em cena o cruel monstro da Lembrança. Tudo que se faz lembra o que se fazia quando estava junto com aquele alguém que não lhe sai da mente. É a rua por onde se passa, a comida que se come, a roupa que se veste, a cor do lençol que cobre a cama, o maldito pacote de camisinha aberto e com uma unidade que ainda não foi usada. 

E ao mesmo tempo ataca o monstro do Desespero. Esse age de diferentes formas, dependendo do tipo de organismo. Pra fugir do sofrimento tem aqueles que bebem, os que se drogam, os que fodem, os que vão pra balada e beijam a primeira boca que encontram. E outras tantas formas de auto-flagelo que beiram o masoquismo.

Para os que bebem, o grande perigo é estar com o celular por perto, porque fatalmente mandam mensagens no meio da noite dizendo coisas que vão lhe afastar ainda mais do ser amado. Para os que se drogam, sobra o corpo debilitado no dia seguinte e uma depressão cruel a corroer a mente. Para os que fodem, fica o arrependimento depois do gozo. E para os que beijam qualquer boca, fica a frustração por estar beijando uma boca que não aquela que se deseja ardentemente.

E então só resta o Tempo como antídoto. É ele que vai acabar com todos os resquícios, inclusive com o demônio da Certeza. (O que leva o indivíduo a pensar que havia encontrado sua alma gêmea, a pessoa certa, a metade da laranja. E que tudo está perdido porque nunca mais vai encontrar alguém como aquele alguém que se acabou de perder).

Mas existe o Tempo. Aquele que felizmente vai curar o mal. E cura tão bem que faz qualquer um esquecer completamente todos esses demônios cruéis. E aí o indivíduo fica novamente apto a amar outra vez. Só que os monstros continuam lá...

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

De volta à Cuba

Meu amigo Edson Pereira, lá das bandas de Caxias do Sul, finalmente finalizou um documentário com as imagens colhidas durante um curso que realizamos em Cuba, na Escuela de Cine y TV em 2010. Foi interessante rever, quase dois anos depois, uma parte da experiência que vivemos lá.

Para quem quiser conhecer um pouco sobre essa escola fantástica, o vídeo é uma boa oportunidade. O Edson teve a sensibilidade de captar imagens interessantes do dia-a-dia na EICTV, mesclando com depoimentos de um grupo de brasileiros que vivenciou a experiência de participar de um curso de roteiro naquela instituição. Fica a dica!

SEM SAÍDA DE EMERGÊNCIA, um filme de Edson Pereira 


Sem saída de emergência from Edson Pereira on Vimeo.



segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

PARIS E UM CENÁRIO

Paris é uma cidade que costuma ser muito explorada pelo cinema, seja nos seus cenários mais famosos, seja em suas ruas cheias de história.  O cinema tem dessas coisas, nos torna íntimo de lugares que nunca visitamos pessoalmente. Nos permite viajar sem sair da cadeira, nos possibilita ver o mundo através de uma tela. E quando finalmente chegamos a um desses lugares, por vezes nos deparamos com a possibilidade de circular por esses cenários.

Um pouco antes de conhecer Paris, fiquei sabendo por um amigo de um amigo, que o café onde trabalhava a personagem da atriz Audrey Tautou no filme “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain” existia de verdade e seguia aberto ao público.



O café funcionava muito antes do diretor Jean-Pierre Jeunet levá-lo às telas em 2001, como o ambiente de trabalho da esquisita Amélie, uma garota que decide ajudar os outros através de métodos pouco convencionais. Mas foi depois do filme que o bar ganhou fama de cult e virou ponto de referência para os fãs do filme e cinéfilos em geral.



Dentro do bar, vários posters e objetos cenográficos expostos lembram não só a história da jovem e seu fabuloso destino, mas também a dos outros de personagens do filme. Não há como não entrar no local e não visualizar o cara esquisitão que se sentava próximo à janela e ficava de olho na ex-namorada, amiga de Amelie. Tampouco é possível esquecer-se da tabacaria onde trabalhava a moça hipocondríaca. Uma pena que o anão que no filme pertencia ao pai da protagonista tenha sumido, levado por algum cliente que passou pelo bar.



Com relação a essa história do anão, fiquei imaginando que a pessoa que levou não deve ter tido a má intenção de roubá-lo para ficar com ele em casa. Prefiro acreditar que seja alguém que costuma viajar o mundo e está fazendo fotos do anão e depois irá levá-lo de volta ao bar, como mais uma prova de que o filme foi muito além da tela.



Para os fãs do filme que forem a Paris, a ida ao bar merece entrar no roteiro de viagem. Fica na Rue Lepic, 15, no 18º arrondissement, próximo a uma estação do metrô da qual não vou lembrar o nome agora, mas nada que uma pesquisa na internet não ajude.


 

Paris é mágica não só por suas ruas cheias de história e por seus cenários conhecidos mundialmente. Mas o é também por esses detalhes que a tornam ainda mais charmosa e interessante.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

MAPAS, BANDEIRAS E UM PAÍS QUE NINGUÉM CONHECE

Quando criança eu tinha um fascínio por mapas, que foi desaparecendo com o tempo. Ou talvez se transformando. Não sei. Eu era capaz de ficar horas e horas folheando um atlas do meu pai, observando curiosamente todos aqueles países distantes e descobrindo o nome de suas capitais. Aos cinco anos eu já sabia quase todas. De cor e salteado.

Alguns anos depois minha mãe comprou um atlas maior, quase do meu tamanho, e eu estudava minuciosamente as informações sobre os mais diferentes lugares do mundo. E partindo dos mapas, mudei meu foco de interesse para as bandeiras. Desenhava todas e pintava com lápis de cor. E assim fui aprendendo muito sobre geografia, a ponto de encher a paciência das professoras com perguntas e mais perguntas.

De todos os continentes, o meu preferido sempre foi a Europa. Provavelmente por sua história, por suas paisagens e por toda a fama que envolve as cidades européias. Mas o que me deixava mais impressionado é que em meio a tantos países famosos, existia alguns tão pequenos que ninguém nunca falava deles. Malta, Andorra, San Marino, Liechtenstein... E era sobre esses pequenos países que minha curiosidade freqüentemente recaía. Como que um país poderia ser tão pequeno, a ponto de sua população ser menor que a da minha pequena cidade no interior gaúcho?


Eu cresci e a curiosidade não desapareceu, apenas se manteve latente. E há pouco tempo, enquanto programava uma viagem à Europa com dois amigos, eles me perguntaram o que eu queria fazer em Liechtenstein. A resposta foi fácil: eu gosto de conhecer lugares onde “ninguém” vai... Depois de tê-los convencido, colocamos o pé na estrada, rumo à Vaduz, capital do pequeno principado encravado nos Alpes, espremido entre as fronteiras da Suíça e da Áustria.
Ao cruzar a fronteira e entrar nos domínios do pequeno país lembrei do velho atlas e me dei conta de que estava pisando naquele pequeno pedacinho do mapa europeu que passa desapercebido por muita gente. Agradeci à minha velha curiosidade por me proporcionar aquele momento e comecei então a curtir a rápida estadia naquelas terras.

Governado por uma das famílias nobres mais antigas da Europa, o “Fürstentum Liechtenstein” (Principado de Liechtenstein) possui apenas 160 km², onde vivem seus cerca de 35 mil habitantes. O Castelo de Vaduz, onde vive a família real, tem mais de 700 anos de idade e fica situado a beira de um penhasco. Uma paisagem e tanto. 
Alvo dos apreciadores de esqui, o país também é procurado por quem pratica Mountain Bike e ainda produz excelentes vinhos, utiliza a mesma moeda dos suíços (com quem mantém um tratado de comércio), é o cenário anual do “Liechtenstein Guitar Days” um festival de música que abre espaço para grandes guitarristas e é palco de um festival de cinema a céu aberto, o Vaduz Film Festival. 

Mas o mais curioso, ao menos para mim que sempre nutri uma curiosidade sobre esse minúsculo país, foi descobrir nessa minha viagem que a data oficial do Principado é o dia 15 de agosto, mesmo dia em que comemoro aniversário. Surpresa grata para um apreciador do local.




Para quem vai a Liechtenstein, uma dica: não esqueça de dar uma passada no Centro de Informações Turísticas e solicitar que carimbem o seu passaporte. Uma recordação que pouca gente tem.