sábado, 30 de julho de 2011

Do Rio e do Rio Grande


Hospedado na casa de um amigo aqui no Rio de Janeiro, enquanto corro atrás de um rancho pra me aquerenciar de vez por estes pagos, tenho o privilégio de abrir a janela e avistar um dos mais belos cartões postais do mundo, o Cristo Redentor, que me sorri de braços abertos como que a dizer “Qualé merrmão, tá curtindo o Ríio?”. Traduzindo pro bom gauchês, “Que tal índio velho, o que tá achando de morar nestes pagos?”.


Levei sete anos pra chegar até aqui, desde que saí do Rio Grande. Durante esse tempo em que fiquei parado no meio do caminho, inúmeras foram as vezes que senti vontade de voltar pro pago, pois como todo bom gaúcho que carrega consigo o instinto de correr o mundo, carrego também comigo esse amor incondicional pelo meu chão, um sentimento que aqueles que desconhecem chamam simplesmente de bairrismo, mas que é muito mais do que isso, sabemos nós que somos de lá.

E hoje, em plena lua-de-mel com essa cidade que me despertou uma paixão arrebatadora – essa cidade de cidades misturadas, essa cidade sangue quente, que me fascina e me leva a querer conhecer suas ruas, seus prédios, suas areias aquecidas pelo sol em pleno mês de julho, sua gente animada e receptiva – não é que me pego com uma saudade do Rio Grande...

Acho que foi o fato de que alguns dos meus velhos amigos lá do sul me fizeram lembrar que estamos no último final de semana de julho, tempos de Coxilha, misturado a um vento que invade pela janela o meu quarto provisório aqui no Rio, arrastando as coisas e me fazendo crer que estou num dia de vento norte, aquele que anuncia a chuva nos pampas...

Nesse fim de semana, em Cruz Alta, acontece a 31ª edição da Coxilha Nativista, um festival de música popular que me traz lembranças dos tempos em que eu e estes velhos amigos que carregarei para sempre montávamos acampamento numa cidade de lona, e ali ficávamos por alguns dias, tomando mate, churrasqueando, bebendo e metendo baile. Um tempo em que a vida nos trazia quase nenhuma preocupação e tudo era motivo pra festa.

Lembro também dos finais de tarde dos domingos em que desmontávamos acampamento. Enquanto trazíamos abaixo aquela que fora nossa casa durante quatro ou cinco dias, me batia uma saudade antecipada de tudo aquilo e uma tristeza tomava conta de mim enquanto carregávamos as toras de madeira que haviam servido de sustentação para as barracas durante os dias do evento. Mas era uma saudade boa, de quem tinha aproveitado tudo aquilo e que ainda sentia um gosto de quero mais.

E acho que essa saudade que estou sentindo hoje é um pouco assim, uma saudade misturada a uma certeza de que soube aproveitar muito bem aqueles tempos. E hoje, mesmo longe dessa terra que amo e que me inspira, me sinto também feliz como naqueles outros tempos, porque sei que finalmente estou onde há muito queria estar. E sei que posso sair a janela e dizer ao Cara que me olha de braços abertos, de cima do Corcovado “Mas bah tchê, tá loco de bueno” e quem sabe até arriscar uma tradução em carioqueish “Porra maluco, tá sinishtro”.

A vida é isso, feita de bons momentos que carregaremos para sempre, aonde quer que estejamos.