quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

MUDANÇAS

Mudar sempre envolve um lado ruim e um lado bom. O lado ruim se refere aos transtornos que uma mudança sempre provoca. O lado bom é que esses transtornos podem levar a uma sensação de recompensa pelas coisas novas que vem com elas. Mudar de casa, por exemplo, é uma mudança complicada, principalmente pelos incômodos que causa e pelo tempo que toma. Mas esse tempo pode ser bem aproveitado se a mudança não consistir apenas em tirar as coisas de um lugar e colocar no outro.

Falo isso porque nos últimos dias estive envolvido com minha mudança de apartamento. E apesar do tempo que perdi, vi nesse processo uma oportunidade de abrir as portas e as gavetas e deixar sair algumas coisas que não via há muito tempo. Eu tenho o costume de guardar coisas. Objetos de família, livros, revistas, filmes e até pequenos presentes desses que alguém traz quando viaja e a gente, mesmo sem saber o que fazer com ele, não tem coragem de jogar fora porque foi um presente. Algumas coisas são importantes e merecem ficar, outras, porém, já ocuparam seu espaço e agora precisam seguir em frente, nem que a próxima parada seja o compartimento para recicláveis da lixeira do prédio.

Mexer nessas coisas foi uma viagem no tempo. Materiais de faculdade como as apostilas de Estética e Cultura de Massas que me fizeram lembrar das aulas da Eunice Olmedo ou as de Teoria Econômica que não entendi porque eu ainda as guardava. Fotografias de vários momentos que me levaram a pensar nos amigos que tenho feito ao longo do tempo e que estão espalhados pelo mundo e também a velha fita Basf preta com músicas do Roberto Carlos que meu pai colocava no toca-fitas e que embalava os passeios de carro da minha infância. Algumas coisas de que me basta a memória para não esquecê-las e outras que fazem sentido ficar guardadas como souvenirs, porque a simples sensação de tocá-las é capaz trazer de volta as imagens, as cores e os cheiros de outros tempos.

Posso até parecer apegado ao passado, mas não é isso que sinto. Gosto das mudanças e acho que elas são fundamentais para tocar a vida pra frente. A incerteza do que vem e a insegurança que ela pode trazer é que são o motor da existência. É preciso traçar novos caminhos, percorrer novas ruas, tirar novas fotos, ler novos livros, morar em casas, bairros e cidades diferentes, para que a vida não seja apenas uma sucessão de repetições.

Para mim mudar é isso, é ir atrás de algo novo para que daqui a algum tempo eu possa limpar as gavetas novamente.

Um comentário:

  1. Gostei do texto, rapaz :)

    Eu, que já me mudei incontáveis vezes, já revi muita coisa que andava perdida ... e com elas muitos sentimentos que costumavam estar no fundo da gaveta :)


    um abraço!

    Lucas Buss

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