quinta-feira, 15 de outubro de 2009

O QUE COMEMORAR EM 15 DE OUTUBRO?

Talvez poucas pessoas lembrem que hoje se comemora o dia dos profissionais de uma importante categoria, nem sempre devidamente valorizada: os professores.

E o que comemorar no dia de hoje? Salários baixos, pouca valorização profissional, salas de aulas lotadas e com péssima infra-estrutura: infelizmente esse é o retrato da educação pública do país. E mesmo assim, muitos desses profissionais da área de educação não desistem de seu maior objetivo: educar. No ensino privado, o professor se torna cada vez mais um mero prestador de serviços, submetido muitas vezes à falta de educação que os estudantes trazem de casa. A impressão que tenho é que o professor não é mais visto como uma figura a qual se deve respeito. Nem pelo governo nem pelos próprios alunos.

Lembro das greves de professores que aconteciam no meu tempo de estudante, época em que o Sr. Pedro Simon, então governador do Rio Grande do Sul, parecia ignorar as necessidades básicas dos educadores gaúchos. Como filho de professora, participei de algumas manifestações ao lado da minha mãe e de outros professores também acompanhados por seus filhos. Tenho certeza que esses pais/professores se viam em uma encruzilhada: ou lutavam para ter melhores condições de criar seus filhos ou submetiam seus rebentos ao prejuízo ocasionado por dois ou três meses sem aula.

De lá para cá, se a coisa mudou foi para pior. No Rio Grande do Sul, enquanto a governadora Yeda Crusius adquire puffs para sua casa com dinheiro público, alunos e professores são submetidos a aulas em contêineres, medida adotada pelo governo gaúcho para economizar com as reformas das escolas.

Enquanto isso, apesar do Piso Salarial Profissional Nacional (PSPN) ter sido aprovado pelo Congresso Nacional e sancionado em julho de 2008 pelo presidente Lula, os educadores do Brasil ainda enfrentam problemas por causa do não cumprimento da lei. O piso vem sendo ignorado em vários estados e municípios por que a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI 4.167), ajuizada pelos governadores de alguns estados como o Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná contra o piso, ainda não foi votada.

Apesar de todos esses fatores, tenho certeza que ainda existem motivos para comemoração. O bom professor, mesmo que não seja remunerado e respeitado da forma como merece, será lembrado pelos seus alunos pela vida toda. Em função do dia de hoje, resolvi fazer um exercício de memória e recordar alguns professores que marcaram minha vida de estudante (que começou no Jardim de Infância aos 5 anos e parece não ter data prevista para acabar).

Não tenho boas recordações da minha primeira professora, a tia Sandra, que me deu aulas durante um ou dois meses: sua didática incluía uma lista negra dos alunos que conversavam durante as aulas, algo um tanto quanto sem sentido em uma turma formada por crianças de 5 anos de idade que iniciavam então sua vida escolar no Jardim de Infância. De cara já tive a oportunidade de aprender que nenhuma classe é formada unicamente por bons profissionais.

Mas depois disso as coisas melhoraram bastante. A tia Maria Helena, minha segunda professora no Jardim de Infância, me reconhece na rua quase 30 anos depois. A professora Enely, que me deu aula na 2ª série, tinha uma letra impecável, fundamental para quem ensina crianças. A professora Noeci, que dava aulas de História na 5ª ou 6ª série, era quase do tamanho dos alunos, e se sentava em cima da mesa enquanto explicava o conteúdo.

Graças às músicas da Marizinha, professora de Biologia no ensino médio, ainda lembro que a “doença de Chagas destrói o coração e o barbeiro faz a transmissão” e que “o raquitismo acontece porque falta a vitamina D”. Com a Lúcia Baptista aprendi a conjugar todos os verbos da língua portuguesa e via nos olhos da Sônia Nicolodi a paixão por dar aulas de história.

Na universidade, tive excelentes professores, como a Jânea Kessler, que foi minha orientadora na monografia do curso de Publicidade e Propaganda e a inesquecível Eunice Olmedo, que dirigia de forma peculiar e única as classes de Estética e Cultura de Massas e que foi eleita por unanimidade como a patronesse da turma de Comunicação Social da UFSM do ano de 1998.

Não posso esquecer também do professor Edison Domingues, que me deu aulas no curso de Administração e que mesmo 6 anos depois da formatura, ainda lembra dos aniversários dos seus ex-alunos e há poucos dias atrás me surpreendeu com uma ligação me parabenizando pelos meus 32 anos. Nesse dia, me contou que decidiu enfim se aposentar, aos 72 anos de idade.

Posso falar do Renato Marchetti, excelente professor do curso de especialização em Marketing da UFPR e da Celina Alvetti e do Hugo Mengarelli, do curso de especialização em Comunicação Audiovisual da PUC-PR. O Hugo chegou a se derramar em lágrimas, na sala de aula, enquanto assistíamos a uma cena do clássico “Ladrões de Bicicleta” de Vittorio De Sica. Mais recentemente tive aulas com os cineastas Luciano Coelho e Marcelo Munhoz, que conseguem, de uma forma eficiente, ir muito além da teoria, conduzindo os alunos à prática do cinema, com conhecimento e profissionalismo.

Impossível deixar de mencionar a importância de uma outra professora, a senhora Maria da Graça, minha mãe, que com grande competência me ensinou muitas coisas, dentre elas a valorizar a importância do educador.

E mesmo com tantos problemas que prejudicam a educação deste país, posso dizer que minha vida escolar tem sido premiada com excelentes mestres que me deixaram boas lembranças. E tenho a certeza de que, apesar da interferência negativa do Simon, da Yeda e da tia Sandra, ainda há muito o que comemorar nesse Dia dos Professores.

3 comentários:

  1. Carissimo Vogel, parabéns pela proposta do blog! além de ser muito pessoal, mostra muito do que você pensa e sente, de sua visão das coisas - e funciona como um blog informativo também.

    Gostei dos tons dos posts, tudo direto e simples.

    Volto mais, pois me cativou.
    Sou cinéfilo também!

    ah, já te sigo aqui, abraço

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  2. bah, também fui aluna da marizinha e da lúcia, achei que só eu lembrava das músicas, principalmente a da doença de chagas ahhahaa

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  3. Eu fui aluno dessa Marizinha no cursinho em Passo Fundo. É interessante lembrar que a Yeda Crusius lidera o conjunto de governadores que são contra o piso salarial nacional da categoria de professores. Além de neoliberal um outro problema sério dela, a meu ver, é a incompetência.

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