sexta-feira, 5 de novembro de 2010

AINDA SOBRE AS ELEIÇÕES

Com diferença de mais de 12 milhões de votos, Dilma Roussef foi eleita a primeira mulher presidente do Brasil. Apesar da campanha eleitoral ter descambado para um nível indesejável, a maioria da população preferiu não dar ouvidos ao jogo sujo da campanha de Serra e seguir firme no propósito de dar continuidade ao trabalho iniciado por Lula.

Eleição encerrada, votação apurada, nome da nova presidente divulgado. E quando eu achei que a sessão de absurdos se encerraria, percebo o contrário. Tenho lido e ouvido tantas coisas descabidas de domingo a noite para cá, que é impossível não me sentir revoltado.

Desqualificar o voto de alguns brasileiros, por viverem em uma região mais pobre, por exemplo. Será que por eu viver no sul, meu voto vale mais do que o de alguém que vive no norte? Será que o fato do sudeste ser a região mais desenvolvida do país, o voto dos seus habitantes tem uma qualidade maior que o dos nordestinos? É triste saber que existem pessoas que pensam dessa forma e discriminam seu semelhante, a medida que os definem como "massa de manobra", "ignorantes" ou outros absurdos do gênero. Democracia pressupõe respeitar a vontade da maioria, mesmo quando essa vontade é diferente da nossa.

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Não considero que o governo do Lula tenha sido perfeito, pelo contrário, me decepcionei com algumas atitudes do PT, que me fizeram rever todos os meus conceitos sobre política. Mas apesar de tudo, não posso fechar meus olhos ante os bons resultados apresentados. Foram 8 anos de muitas conquistas sociais que mudaram a cara do Brasil, com milhares de pessoas deixando para trás a linha de pobreza. É claro que políticas assistencialistas não podem ser utilizadas como solução por um longo período. É preciso partir delas, mas em direção à geração de empregos e oportunidades de qualificação. As políticas assistencialistas devem ser um primeiro passo, permitindo aos menos favorecidos economicamente ter suas necessidades básicas saciadas. Com a barriga vazia, ninguém consegue estudar ou trabalhar. Depois disso é necessário avançar. E o governo Lula já deu um grande passo, que foi diminuir as taxas de desemprego e ampliar o número de universidades públicas.

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O grande problema da maioria das pessoas é o egoísmo. Querer tudo para si. Eu não me importo em pagar impostos e o meu dinheiro ser usado pra matar a fome de alguém. Desde que esse dinheiro seja usado com responsabilidade. Existe um discurso de que a classe média tem sofrido, porque o governo só faz pelos pobres. Mas será que isso é totalmente verdade? As pessoas reclamam, mas quase todo mundo tem carro na garagem e TV de LCD. A cada dia tem mais carro circulando nas ruas. Todo mundo quer mais e mais, sem querer abrir mão de nada.

Acredito que é preciso parar de olhar para o próprio umbigo e tentar enxergar os resultados através de uma perspectiva um pouco maior. É preciso “ver” socialmente. Quem tem muito dinheiro dificilmente sairá perdendo a ponto de passar fome. Agora, para quem não tem nada, um prato de comida faz muita diferença.

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É por essas e por outras coisas que fico feliz com a eleição da Dilma. E acredito que o papel de todos os brasileiros, a partir de agora, é fazer a sua parte para que o novo governo tenha êxito. E fazer a sua parte envolve fiscalizar para que as coisas aconteçam corretamente, em todos os sentidos. Só acho que não vale fazer o que muita gente faz, que é torcer contra. Porque aí estamos torcendo contra nós mesmos, pois querendo ou não, somos parte desse país e temos que respeitar a opinião da maioria.


Um comentário:

  1. Carlos, é muito bom ler suas palavras. É quando posso ver que ainda vale a pena acreditar na inteligência das pessoas, na imparcialidade do ser humano e em sua noção de unidade. Refiro-me especialmente a esse tema porque é de fato revoltante ler tudo isso que está por aí, sinto na pele os absurdos cruéis disseminados por quem é simplesmente desinformado ou desumano. Essa que vemos por aí é a lógica do nazismo, aquela que diz que é lei da natureza que o mais fraco pereça. Eu sempre achei que "consciência" era exatamente o que nos separava dos animais.
    Bem, isso é um desabafo. Sou nordestina, adoro viver aqui, gosto da minha cultura, sou fruto dessas raízes, como não poderia deixar de ser. Sempre ouvimos que o Brasil era um país sem preconceito, um lugar para todas as crenças, cores e raças. Balela, né? Enfim, só lamento. Mas agradeço a você, querido, que tem, com suas palavras, se oposto a esses absurdos. Bjs para vc. Mel.

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