segunda-feira, 12 de abril de 2010

Sobre um sonho e um Oscar

No final de semana aproveitei para ir ao cinema assistir a dois filmes que entraram em cartaz aqui em Curitiba (como sempre, um bom tempo depois de serem exibidos em outras cidades do país). Mas não é sobre a demora em se exibir filmes por aqui que quero falar, e sim sobre a persistência de correr atrás de um sonho mesmo diante das dificuldades e sobre o Oscar que os argentinos levaram.


Em 1995, quando ingressei no curso de Publicidade e Propaganda da UFSM, fui aluno do Sérgio Assis Brasil e durante as aulas, ouvi ele falar do seu sonho de rodar um longa-metragem inspirado em Manhã Transfigurada, obra de seu primo Luiz Antônio Assis Brasil – para mim o melhor escritor gaúcho da atualidade. Um sonho ousado para uma realidade como a de Santa Maria, no interior do Rio Grande do Sul, sem nenhuma tradição cinematográfica.


Fazer cinema no Brasil é complicado, principalmente por questões financeiras, mas isso tudo mundo já está careca de saber. O que motivou a escrever sobre esse filme não foram necessariamente essas dificuldades, mas o fato de ter acompanhado de longe, mesmo depois de ter saído de Santa Maria, a persistência do Sérgio de levar seu sonho adiante. Foram vários anos dedicados a esse projeto, desde a pré-produção até a finalização, passando pelas filmagens que foram concluídas em 2002. Somente em 2007, cinco anos depois, é que Sérgio conseguiu assistir ao primeiro corte do seu filme, quando já estava em tratamento contra um câncer que não o permitiu ver sua obra estrear nas telas. Mesmo assim, acredito que Sérgio saiu vitorioso nessa luta pelo cinema e foi legal ver esse filme pronto, como a consagração, mesmo que póstuma, de um objetivo. Apesar dos sérios problemas de interpretação, a história me envolveu e segurou minha atenção. O roteiro consegue manter a essência do livro, mesmo com alguns diálogos desnecessários.




O outro filme que assisti foi o argentino O Segredo dos seus olhos, de Juan José Campanella, que garantiu aos argentinos pela segunda vez o Oscar na categoria Melhor Filme Estrangeiro e despertou, aqui no Brasil, alguns questionamentos sobre porque nossos vizinhos fazem cinema melhor do que a gente. Embora eu seja da opinião de que o alemão A Fita Branca deveria ter ficado com a estatueta esse ano, acredito que o filme vencedor tem seus méritos.


A produção cinematográfica argentina tem se destacado nos últimos tempos, talvez porque os cineastas daquele país tenham descoberto a sua forma de contar histórias, que acabou por gerar uma identidade própria e tem levado o mundo a falar sobre “cinema argentino”, seguindo o rastro de outras cinematografias como a iraniana ou a sul-coreana.


Quanto ao cinema brasileiro, apesar de algumas boas produções nos últimos tempos, talvez ainda não tenha se “encontrado” e por isso sofra essa crise de identidade. Num país imenso como o Brasil, há muita história para se contar e talvez seja importante aos nossos cineastas olharem um pouco mais para a realidade a sua volta. Nordeste e favela já renderam excelentes histórias, mas é preciso ir além. Quem sabe assim o mundo um dia falará sobre o cinema brasileiro, assim como fala dos nossos vizinhos.







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